sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A Minha Tese: Percursos e Representações sobre o Consumo Excessivo de Álcool: Um Estudo Exploratório na Grande Área de Lisboa - ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.1         Um pouco de história


O álcool é tão antigo como a própria humanidade. É consumido pelo homem desde sempre. A fermentação da fruta nunca foi um grande mistério, pelo que os primatas conseguiram produzir leves intoxicações mediante este processo. Nas diferentes civilizações, o consumo de álcool começa a assumir particular importância a partir da revolução neolítica, altura em que se inicia uma produção mais sistemática de matérias-primas, como a cevada e frutas e se verifica um avanço nas formas de fermentação.
A mistura fermentada de água e mel (hidromel) e a cerveja são consumidos há milhares de anos. Um texto datado de 3000 anos antes de Cristo, descreve os gastos de uma família asiática, fazendo alusão clara a este tipo de consumo: “pão e cerveja para um dia”. De 2200 antes de Cristo foram encontradas peças que nos mostram que as mulheres em estado de aleitamento eram incentivadas a beber cerveja e existem registos que relatam que Hamurabi, um rei babilónico, amparava as pessoas que bebiam cerveja ou vinho de palma e dava ordens de execução aos taberneiros que adulterassem a qualidade das bebidas. Os antigos egípcios, que tinham destilarias há cerca de 6000 mil anos, prestavam culto a Osirís como forma de agradecimento pela dádiva da cevada.
Os gregos, que transferiram esse mesmo culto para Dionísio, tinham por hábito oferecer bebidas alcoólicas a deuses e soldados, utilizando-as também como facilitadores de relações interpessoais, nomeadamente nos banquetes com fins recreativos e para discussão de ideias filosóficas e políticas – os chamados Symposios.
Por sua vez, os romanos agradeciam a Baco a criação do “vinho divino” e ofereciam um forte contributo para a regulação de produção de vinho e da sua divulgação em toda a Europa. O vinho tornou-se num fenómeno universal, o qual é visível pela proliferação da taberna – local onde era mantida uma reserva de bebidas alcoólicas para serem consumidas nesse mesmo lugar e que assumia também um papel de relevo a nível das relações sociais e actividades públicas.
O álcool desempenha também um papel importante a nível religioso. A Bíblia, por exemplo, mostra-nos inúmeras alusões ao vinho. No entanto o recurso constante ao vinho em cerimónias religiosas não se encontra exclusivamente no Cristianismo, estando generalizado aos Aztecas, à religião familiar chinesa, ao hinduísmo e ao bantu. A única excepção à regra, encontra-se em religiões como o islamismo, que restringem ou proíbem mesmo o seu consumo.
A destilação de bebidas deve-se aos árabes, também responsáveis pela introdução deste processo na Europa. No entanto, foram os cristãos mediterrânicos quem lideraram o desenvolvimento industrial da produção a partir do século XII. Só no século XIV é que esta tecnologia, já perfeitamente desenvolvida, tem implementação no resto da Europa.
Durante toda a Idade Média, o álcool esteve intimamente associado à saúde e bem-estar sendo conhecido pela designação de aqua vitae. Só em fins do século XVI é que adopta a actual terminologia, a qual etimologicamente tem origem na palavra grega alkuhl, que se refere ao espírito que se apodera de todo aquele que se atreve a abusar dos produtos fermentados.
O álcool tornou-se num importante produto comercial aquando das trocas com as colónias, oferecendo largos lucros aos seus comerciantes, o que também é explicado pela natureza estável dos produtos destilados europeus (aguardente, rum, genebra, em especial), os quais não sofrem deterioração com as distâncias a serem percorridas, nem com o tempo. Progressivamente, estes produtos começam a substituir as produções locais de fermento, o que faz com que os destilados se convertam num dos primeiros mercados mundiais, a partir do século XVII.
A revolução industrial do século XIX abre caminho para uma maior expansão do mercado dos destilados, contribuindo consequentemente para um aumento notável do seu consumo, o qual é acompanhado pelo aumento de problemas com este produtos. É neste contexto que surgem as leis de proibição dos anos 20 nos Estados Unidos, (a chamada Lei Seca), e as campanhas de prevenção, a partir dos anos 60, em países desenvolvidos.

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