quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A Minha Tese: Percursos e Representações sobre o Consumo Excessivo de Álcool: Um Estudo Exploratório na Grande Área de Lisboa - ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

      Objectivo do Estudo


Porque se começa a consumir bebidas alcoólicas? Qual a razão que leva um indivíduo a consumir em excesso, até assumir uma dependência perante o álcool?
O alcoolismo não tem uma única causa, nem tão pouco existe uma personalidade predisposta para o consumo de álcool. O alcoolismo tem diversas causas, que podem ou não coexistir na mesma situação.
O indivíduo que se torna um dependente do álcool pode simplesmente fazê-lo porque se divorciou, se deprimiu, perdeu o emprego, perdeu um amigo, ou simplesmente porque está inserido num contexto sócio cultural.
As perturbações de ansiedade[1] estão também, muitas vezes, associadas ao alcoolismo, explicadas pelo efeito ansiolítico (medicamento que acalma a ansiedade e a angústia), proporcionado pelo álcool.
Outro factor muito importante é a depressão[2], estando o álcool muitas vezes associado a este tipo de doença. É frequente o refúgio no álcool, quando surgem sentimentos de tristeza, angústia, desinteresse pela vida, choro, etc.
O facto de acontecer algo negativo na vida do indivíduo pode desencadear uma procura do álcool, como sedativo, tranquilizante e até “anestesiante do sofrimento psíquico”, é muitas vezes aquilo a que se costuma dizer, “vamos beber para esquecer”. O problema é que se pode esquecer, mas apenas por umas horas, no máximo.
O risco do alcoolismo pode também estar ligado a factores culturais, “(…) o indivíduo aprende e interioriza valores, normas, códigos simbólicos e regras de conduta inerentes à cultura onde se encontra inserido”[3].
Por exemplo, o consumo de álcool em idades muito precoces pode ser motivado por razões sócio-culturais, como a aprendizagem por imitação de familiares, grupo de amigos, ou outros que exerçam influência sobre o indivíduo. Um dos exemplos encontra-se nas regiões rurais, onde se produzem bebidas alcoólicas, principalmente vinho, como no caso do nosso país.
Como veremos mais à frente, Portugal tem uma grande tolerância cultural a esta substância. Os ritos e manifestações sócio culturais       (como a vindima, p.e.) associados aos mitos existentes (que afirmam que o álcool dá coragem, força, etc.) fazem com que o consumo excessivo de álcool seja algo “normal” no nosso país.
O objectivo do presente trabalho é perceber como se desencadeia o consumo de álcool, ou seja, a motivação e/ou desmotivação que está presente no indivíduo quando começa a ingerir quantidades substanciais de álcool, até à dependência.
É necessário perceber o percurso que cada indivíduo faz, até ao momento em que a dependência perante o álcool se torna um factor preponderante na sua vida, ou seja, quais as verdadeiras razões que levam o indivíduo a consumir doses excessivas de álcool.
Os factores ilusórios de que os indivíduos alcoólicos, são “marginais da sociedade”, são “indivíduos com pouca cabeça”, ou se tornam alcoólicos “porque são fracos”, são completamente erróneos e falsos, pois no passado, esses mesmos indivíduos tiveram família, amigos, emprego e viveram uma vida feliz.
Foi com base nas intenções acima explicitadas, que se inscreveu o objectivo central deste estudo, pois com ele procurei:

Identificar, compreender e descrever o percurso de vida que  leva os indivíduos a  tornarem-se  consumidores  excessivos de álcool, levando-os a situações de exclusão social  e  afastamento perante a sociedade. 

Definido o objectivo central da dissertação, tornou-se necessário proceder à sua operacionalização, apresentando como pretensões fundamentais a interpretação e compreensão dos motivos que levam os indivíduos a tornarem-se consumidores abusivos de álcool.


[1] Característica biológica do ser humano, que antecede momentos de medo, perigo ou tensão, marcada por tensões corporais desagradáveis, tais como uma sensação de vazio no estômago, coração batendo rápido, nervosismo, aperto no tórax e transpiração.
[2] Doença mental caracterizada por tristeza mais marcada ou prolongada, perda de interese por actividades habitualmente sentidas como agradáveis e perda de energia ou cansaço fácil. A depressão pode ser episódica, recorrente ou crónica, e conduz à diminuição substancial da capacidade do indivíduo em assegurar as suas responsabilidades do dia-a-dia.
[3] VASCONCELOS, Raposo, J., ALVES, A. L. (s.d.). Práticas e Hábitos de Consumo de Bebidas Alcoólicas por Parte de Alunos do 3º Ciclo do Ensino Básico. No prelo.

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